06 outubro 2012

A primeira vez


Era uma noite qualquer e eu estava bêbada. No estado em que já não nos lembramos do que fazemos ou porque o fazemos. Estava com os meus amigos e a festa era enorme, repleta de gente. Uma rapariga que conheci, através de uma amiga, agarrou-me na mão. Fugimos. Aquela amizade, se é que a podemos chamar assim, era recente, tinha sido criada nessa mesma noite. Lembro-me de sentir empurrões de todos os lados, de rir-me desvairadamente, de tropeçar em pessoas. Perdi-lhe a mão na multidão, e sabe-se lá porquê fui cruzar o meu olhar com o dele. «Sabes de algum sítio onde fazer xixi?», foi a primeira pergunta que lhe fiz, a primeira frase que lhe disse, a primeira vez que estabeleci contato. «Sais daqui, sempre em frente, viras à esquerda, blá blá blá»... Não quis ou não consegui ouvir nada. Queria lá saber. «Vens comigo?» E antes de qualquer resposta agarrei-lhe a mão e fomos embora. Sei que nessa noite nunca mais o larguei. Com ele era fácil rir, conversar ou apenas estar. Se calhar a bebida proporcionou essa facilidade, mas eu sentia-me bem, nem que fosse a ir umas mil vezes lá ao sítio estratégico para eu despejar a bexiga. Não me esqueço dos olhos verdes dele, talvez porque é basicamente do que me lembro dessa noite de março. O meu irmão apareceu, os meus amigos também, todos furiosos comigo porque mais uma vez eu tinha fugido deles. Todos com o álcool no sangue a falar mais alto, houve gritos, lágrimas, enfim, discussão. Se num momento tinha a minha mão na dele, no seguinte ele largou-me. Foi embora, e eu só pensei «cobarde». Tudo o que eu sei dessa noite foi ele que me contou.  

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